quarta-feira, novembro 2

Pela Estrada Fora...(updated)

Num país onde os cidadãos são tão receptivos às novas regras de circulação automóvel, acho que a solução passaria mesmo por reescrever todo o código novamente.

Ora vejamos, por exemplo, a corrida aos novos coletes reflectores, de forma tão desenfreada que os automobilistas até os exibem nas costas dos bancos das suas viaturas ou em outros locais bem visíveis... apesar do ridículo sentido estético da coisa!

Assim, reescrevendo todo o código, poderia ser que o efeito fosse o mesmo, com uma adesão em massa a tudo o que fosse reescrito.

Todos os dias deparamo-nos com situações que não lembra o diabo, colocando em perigo todos os que circulam nas nossas estradas. Os condutores inocentemente ou propositadamente, cometem erros que acham insignificantes e demonstrando uma falta de civismo e total desrespeito por todos e inclusive com ele próprios.

Os acidentes levam a novos acidentes...
Chego à conclusão que o típico condutor sofre de alguma forma de sadismo assim que se senta ao volante.
Se está a conduzir e encontra um acidente, há que imediatamente saltar em cima do travão para cuidadosamente observar o acidente, chegando a parar a viatura, mesmo que se encontre no meio de uma auto-estrada! Se alguém lhe pergunta alguma coisa, este responde que tem o direito de ver! Sim.. ver o sufrimento dos outros... a desgraça alheia... e já segue mais feliz.
Melhor ainda se houver sangue! Aí, com certeza, já leva assunto para horas, na próxima conversa de café, ou para casa - isto se não estiver a dar futebol... caso contrário, o futebol predomina sempre sobre qualquer assunto.

A ignorância e inconsciência destas travagens para ver o acidente, mesmo que este tenha acontecido na faixa contrária da auto-estrada, com um vedação no meio, leva a que outros acidentes aconteçam. Leva a que se formem enormes filas de trânsito sem qualquer razão que o justifique.
As autoridades vêm o que se passa e fecham os olhos como se nada tivesse a haver com eles. Deixam as filas formarem-se, causando novos acidentes e sem contribuir em nada para a necessitada alteração de mentalidade. E é melhor nem nos queixar-mos às autoridades presentes no local, ou habilitamo-nos a que nos façam a vida negra!
Buzinar ou queixarmo-nos de alguma forma ao condutor que passa devagarinho em frente ao acidente, só com muito cuidado. Entre sermos insultados a pararem a viatura e virem ter connosco tirar satisfações... tudo pode acontecer!

Mas há mais...

As famosas ultrapassagens de última da hora, querendo sair 'na próxima saída'. Obriga à travessia de duas ou mais vias repentinamente, ou uma travagem de última da hora, se não conseguir concretizar a ultrapassagem! Independentemente dos casos, tem é que se sair 'naquela saída' nem que para isso tenha de fazer inversão de marcha em plena via rápida ou auto-estrada.

Os condutores não perceberam ainda o conceito de piso molhado! Mas eu explico.
Com o piso molhado, os carros tendem a aderir menos. Especialmente quando não chove há bastante tempo, a sujidade e óleos que estão estranhado no asfalto, têm como consequência uma menor aderência do pneu à estrada (PNEU: são aquelas 4 coisas redondas usualmente pretas, que unem o carro ao chão e sobre as quais o carro 'rola').

Poderia continuar a enumerar exemplos o blog inteiro...
a não utilização das distâncias mínimas de segurança em relação ao veículo da frente, a falta de civismo usualmente associadas às situações de "ele que pare" ou o "ele que se chege para lá que passamos os dois", as manobras perigosas totalmente inconscientes, as mudanças de via no mesmo sentido sem utilização devida dos retrovisores, a falta do uso de piscas, o manterem-se na via da esquerda, as ultrapassagens arriscadas e demoradas dos pesados, a não utilização dos médios (para que as viaturas se tornem visíveis) quando chove.

Em relação ao último ponto, sou até defensor que os médios deveriam ser obrigatórios continuamente. Num dia de Sol em auto-estrada, um veículo torna-se bem mais visível através dos retrovisores se tiver os médios acesos. Tal é já obrigatório para as motas. Porque não aplicar esta regra a todos os outros?


E as autoridades?
Essas estão sempre presentes.... escondidas, disfarçadas e a passar multas.
Passam-se multas em auto-estradas em situações muito duvidosas. Muitas histórias se ouve de pessoas que foram "forçadas" a acelerar para dar passagem a um veículo e descobrirem que esse era da polícia, acabando por serem multadas.
Passam-se multas a cidadãos que se encontram totalmente parados em filas de trânsito porque pegaram no telefone para avisar alguém da situação em que se encontravam.
Deixam-se estacionar as viaturas em local ilegal ou mesmo perigoso sem qualquer acção, e após o condutor se afastar da viatura, aparece a polícia a multar.

Posso dizer-vos, que no final do ano passado, na A1, havia sempre durante o dia cerca de 6 viaturas disfarçadas da polícia... talvez para ajudar a combater o défice?
Mas isto deve mesmo trazer receitas elevadíssimas à polícia. Até têm carros modificados para o fim... Subaru's, BMW's... E a manutenção destas viaturas? Deve ser caríssima... Vejamos... um carro que anda sempre em auto-estrada usualmente está em bom estado! Mas estes carros disfarçados da polícia andam sempre no para-arranca. Arrancam das estações de serviço de Gaia. Passados dois minutos estão parados a multar alguém. Arrancam passados 10 minutos. Mais dois minutos estão parados a multarem mais alguém. Se tiverem arrancado de manhãzinha de Antuã, quando chegarem à Mealhada já passa da hora de almoço! Imaginem o estado das viaturas...

E mesmo a formação dos agentes... deixam muito a desejar, por vezes.
Conto aqui o caso, da Via Rápida, na descida para a ponte de Leça, no ano passado. Uma senhora teve um furo no pneu, quando circulava na via esquerda e limitou-se a parar o carro em vez de o encostar à direita. Facto este usual - há um problema na viatura... pára-se imediatamente, independentemente do local, e aguarda-se...
Os agentes que se aperceberam da situação pararam a sua viatura por traz da mesma e ajudaram a senhora a mudar o pneu!
Duas viaturas paradas na via esquerda de uma via rápida, em zona de má visibilidade, em situação perigosa. Obviamente, nem o minúsculo triângulo conseguiu sinalizar e evitar um brutal acidente, onde só não morreu ninguém por pura sorte!

E soluções?
As soluções no que toca à parte dos condutores (porque relativamente às autoridades não há mesmo solução) passa pela formação dos futuros condutores.

O sistema actual para obtenção da licença de condução é perfeitamente ridículo.
Tenta-se dificultar a máximo o exame de código, com truques de português e imagens ou esquema que têm como único objectivo, dar a ideia errada, confundir, e não propriamente saber se o candidato sabe ou não correctamente o código!
O exame de condução actual, é para esquecer. Tanta gente que tem a carta e basta dar uma vista de olhos pela cidade à forma como as pessoas estacionam os carros, para se perceber que nem estacionar de traseira sabem.



Este sistema tem de ser totalmente remodelado.
O jovem que deseja obter a licença de condução deveria começar a sua preparação para tal antes dos 18 anos.
Se olharmos ao exemplo do sistema americano, por exemplo e entre outros, poderia-se até incluir até esta formação em conjunto com as escolas. Agora com a escolaridade mínima obrigatória até ao 12º ano, isto poderia ser totalmente viável. O aluno com resultados satisfatórios poderia começar a tirar a carta mais cedo, como forma de incentivo.
A formação teórica terá de deixar de ser só o código! A formação teórica tem de incluir também mudança de fusíveis, pneus, comportamento físico do carro, controlo do carro em situações adversas (quando o carro derrapa de frente, quando o carro derrapa de traseira), alterações do comportamento do carro em situações adversas como chuva, neve e vento...
O exame deverá ser abrangente a todo este nível.
A preparação prática, deverá incluir o habitual aprender a conduzir em carros 'vulgares do actual mercado', andar em estradas livres, no trânsito, em auto-estrada, etc. Deveria ser ainda possível, nem que por uma vez, colocar o candidato em circuitos de preparação de condução defensiva.
Se estas actividades forem efectuadas em conjunto com as escolas, o número de horas de condução porderia aumentar, começando toda a formação aos 16 anos, sem se entrar no habitual regime intensivo de 30 horas de condução, que na maioria das vezes nem são cumpridas e são prejudiciais por serem tão seguidas.
Os alunos poderiam proceder ao respectivo exame, após determinado ano lectivo com êxito nesta matéria e autorizado pela escola (com resultados satisfatórios nas restantes disciplinas).
Deste modo o aluno obteria igualmente a sua licença de condução sensivelmente nas mesmas datas da actualiade (na casa dos 18 anos) mas tería já um índice de preparação para a condução, totalmente diferente.
Por outro lado, quem não seguisse este sistema de avaliação/aprendizagem, deveria passar por outro processo, que não fosse mais fácil de obter a respectiva licença, e só a partir (por exemplo) dos 25 anos.

Finalizo este artigo apenas assim...

A demonstração prática que nem sempre tudo corre bem quando se está ao volante, é a melhor forma de consciencialização dos condutores!


-=Update=-

O guia pelo qual o condutor português aprendeu a conduzir

2 Comments:

At 02 novembro, 2005 14:47, Blogger CARMO said...

Um post grande e um grande post! Excelente! Subscrevo tudo.

 
At 02 novembro, 2005 22:31, Anonymous Anónimo said...

ora aqui está a verdadeira imagem do nosso pequeno país..."salve-se quem puder","sangue" para muitas conversas ocas, e muitos, muitos carros na estrada...afinal isto das aprender a conduzir é um negócio certo?! agora juntem-lhe mais uns ingredientes (multas e afins) deixem marinar e têm um verdadeiro repasto.

 

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