quarta-feira, maio 31

Estado da Educação em Portugal!


É vergonhoso o que se passa de momento em Portugal.

Todos sabemos que as escolas têm alguns problemas. Como em todas as actividades há bons profissionais e maus profissionais. Obviamente, um mau profissional nesta área, que não cumpre com todo o seu dever, origina resultados catastróficos, não só para as turmas que lecciona, mas também para toda a imagem, já péssima, da classe dos professorem em Portugal.

Mas quando a própria Ministra da Educação, profere declarações, como as efectuadas ontem, denegrindo toda a classe que ela própria representa, então entramos num beco sem saída.

Esta, optou pela solução simples de culpabilizar escolas e professores pelo insucesso escolar.
Tal qual ouvimos o "Zé Povinho" a dizer "os políticos são todos corruptos", ou "são todos uns ladrões que só se preocupam com o bolso deles", equivalentes são as declarações da Ministra da Educação.

Estando esta a representar a classe dos docentes portugueses, pior se tornam estas declarações. Em vez de se tentar moralizar, melhorar e expor o esforço que cada um destes faz (ou na sua maioria) para que tudo corra da melhor forma, apesar de muitas faltas de condições e das conhecidas deslocações não financiadas a que estes são obrigados a efectuar, opta-se antes por piorar a situação.
Gera-se assim a ideia que os docentes, de forma geral, são maus profissionais. Isto obviamente cria uma onda de desincentivo individual - "ora, se ninguém faz nada porque é que eu haveria de ser o único a me esforçar?". A bola de neve está criada!

Este ministério pretende passar a avaliar também o docente, o que seria algo justo.
Mas não com a actual proposta.

Alguns factores que me chamaram à atenção foi o facto do docente, num dos pontos de avaliação, ser avaliado no final do ano lectivo pelos próprios Pais dos alunos.
Se já todo o sistema está feito para que o aluno passe de ano, independentemente do seu comportamento e resultados, agora ainda pior. Visto, por exemplo, em muitas escolas, as turmas estarem divididas consoante os seus resultados (sendo as turmas A's as melhores, e piorando ao longo do alfabeto), um professor diante uma má turma, terá o seu critério de avaliação comprometido, mediante a 'insatisfação' da avaliação por parte dos pais dos alunos. Gera-se assim facilmente a ideia errada do "professor incompetente", à qual disciplina apenas uma pequena percentagem dos alunos obteve sucesso ou a do excelente professor que "passou a turma toda", apesar dos seus alunos não terem atingido os requisitos considerados de mínimos.

Ainda, os professores também serão avaliados, mediante a taxa de abandono escolar.
Ora, sabemos que a taxa de abandono escolar, está associada a factores sociais, na maioria dos casos - os pais necessitam do trabalho do filho para sustento da casa, deslocação longa até à escola mais próxima, o não reconhecimento da família da importância dos estudos, entre outros factores. Ou então, se supostamente a razão do abandono escolar fosse causado pelos professores, o aluno poderia desejar abandonar a escola devido a dois ou três docentes de quem não gostaria, e desta forma, todos os outros seriam prejudicados.
Não me parece que faça sentido esta avaliação.

Parece-me ainda haver uma clara desresponsabilização do estado, sobre todos estes factores.

Fala-se que querem que os professores passem mais tempo na escola.
Acho óptimo! Seria a situação ideal.
Mas para isso, a escola terá de ter espaço físico para comportar os docentes que não estão a leccionar. As, por vezes, minúsculas salas para o efeito, não contêm meios informáticos decentes e suficientes com acessos "reais" à Internet, ou mesas suficientes para que o docente possa preparar aulas e corrigir testes (por exemplo), e ainda condições de ambiente, como o silêncio e temperatura (aquecimento/ar condicionado).
Obviamente, que actualmente, os professores tendem a proceder estes serviços em casa. Passam fins-de-semana e noites durante a semana, a trabalharem para a escola, prejudicando a sua vida familiar, porque a escola não tem condições de trabalho.

A avaliação de docentes é algo positivo, no entanto, estes têm de ser defendidos de avaliações injustas, arbitrárias, caprichosas ou mesmo de ameaças, para que não seja posta em causa a eficácia da profissão.

De quem vê tudo isto de fora, vê uma clara responsabilização e culpibilização da classe docente, e nada de novo que lhes dê melhores condições de trabalho, ou mesmo que os defenda!

Por fim, considero que se continua a pensar em números e estatísticas.
O importante é reduzir as taxas de abandono escolar e aumentar as taxas de escolaridade da população face à União Europeia.
Assim, agora, é muito difícil para um docente reprovar um aluno até ao 9º ano de escolaridade, pois entre conselhos de turma e recorrência da nota por parte dos pais, o aluno quase sempre acaba por passar de ano. Mas com os novos estatutos a situação vai com toda a certeza piorar, e tem ainda que se ter em conta que a escolaridade obrigatória passa a ser o 12º ano.
O mais provável acontecer, tendo em vista a experiência anterior, é que vamos ter alunos com o 12º ano concluído, com menor nível conhecimentos do que actualmente, e do que há uns anos atrás.

Isto vai acartar consequências complicadas para a admissão dos alunos em faculdades, pois estas vão ter que diminuir o nível de exigência inicial, e consequentemente, obrigará após licenciatura, à aquisição de cursos de especialização, de mestrados e doutoramentos, como requisitos essenciais para a entrada no mercado de trabalho.

6 Comments:

At 01 junho, 2006 09:55, Blogger CARMO said...

Bem... costuma-se dizer que o exemplo vem de cima... e que rico exemplo! Essa senhora só tem uma solução: demitir-se... por imbecilidade gritante!
Essa mania que qualquer um pode ser juri tem de acabar rapidamente... como é que conseguimos por os pais a avaliarem, objectivamente, os professores? Vão avaliar de acordo com aquilo que lhes passar pela cabeça... Já pensaram no grau de escolariedade que alguns pais têm (ou não têm)? Opiniões não devem ser confundidas com julgamentos de avaliação; é que as avaliações condicionam a vida de terceiros... e as opiniões, cada um tem a sua...
No outro estive com o professor do Porto, que este ano, e ao fim de 17 anos de profissão, foi transferido para Lisboa! Isto cabe na cabeça de alguém?! Que raio de país é este!? Que bestas são essas que assinam uma ordem destas!? O homem é casado e tem 2 filhos... tem a sua vida toda no Porto e quase aos 40 anos é obrigado a ir trabalhar para Lisboa?! Mas o que é isto!?

 
At 01 junho, 2006 12:13, Blogger MTOCAS said...

acho que não tenho nada a acrescentar, simplesmente te dizer que concordo com tudo o que escreveste e vou passar este teu post á minha irmã que é professora desde de que acabou a faculdade(foi uma das sortudas em efctivar desde logo).
Professora duma disciplina que os alunos normalmente não gostam "Português", sei bem o quanto é dificil para ela tentar motiva-los e principalmente estando a lecionar numa região agricola, como Celorico de Basto, onde os alunos estão mas a pensar nos trabalhos q tem q fazer em casa depois das aulas para ajudar os pais a viverem e manterem os seus negócios. Ou aquelas que abondonam por engravidar...o que já aconteceu... Conheço bem essa situação, estar a dar aulas numas salas pre-fabricadas, sem aquecimento e quais as roupas que ela usa para ir para as cavernas como eu lhe chamo, sei bem do tempo que fica a corrigir testes, a preparar aulas, a inventar formas de chamar a atenção dos alunos que ainda lá restam e motiva-los. Visitas de Estudo, etc etc.
Com isto o meu sobrinho é que paga...mas ela gosta do que faz, nasceu para aquilo e considero-a muito profissional. Mas agora vendo bem o que escreveste, será que os pais dos alunos dela têm noção do bom trabalho que ela faz ?
terá a propria ministra sabedoria para ela propria para avaliar ?
isto de renovar o ensino não começa por aqui...disso podem ter a certeza! Espero sinceramente que a minha irmã tenha uma resposta para nós, mas acredito que nem tenha tempo para o fazer, dada a vida que tem, entre escola, filho e casa...

 
At 01 junho, 2006 14:20, Blogger MTOCAS said...

A minha resposta é esta:

Professora do Ensino secundário, Licenciada em L.L.Modernas, boa falante de Português, Inglês e Francês, com facilidade em escrever textos,especializada em organização de bibliotecas, procura emprego como empregada doméstica em casa de boas famílias.
Além destas competências científicas, a candidata sabe cozinhar bem, especialmente doces, sabe bordar a ponto de cruz e ponto e arraiolos, sabe fazer malha e crochet, e tem carta de condução de ligeiros desde 1989.Também sabe pregar botões e subir bainhas.
Como hobbies, gosta de ler histórias, e ver cinema de qualidade. Não fuma, não toma drogas (apenas uns calmantezitos e uns anti-depressivos, quando lecciona turmas difíceis)ou bebidas alcoólicas.
Tem boa apar~encia, embora seja portadora e um aparelho de correcção ortodôntica.
Disponibilidade a partir de 1 de Setembro de 2006.Zona preferencial de trabalho:
fora deste país de loucos!

assinado irmã da Marta

 
At 01 junho, 2006 22:47, Blogger Filipe Carmo said...

Na tua disciplina, segundo a lista de vagas do ministério da educação, o mais perto que se arranja é perto de casa da casa da tua irmã... em Marte!!!

 
At 10 agosto, 2006 23:44, Anonymous Anónimo said...

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At 16 agosto, 2006 08:28, Anonymous Anónimo said...

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